MANANCIAL

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"Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada". (Cânticos 4:12)

quarta-feira, 20 de abril de 2016

IMPOSIÇÃO DE MÃOS.

Este é um assunto esquecido no meio cristão; quero neste estudo abordar, mediante a graça de Deus, os aspectos desta ordenança respaldada pelas Escrituras.

Trazendo à memória a fé não fingida que há em ti a qual habitou primeiro em tua avó Loide, e em tua mãe Eunice e estou certo de que também habita em ti. POR ESTA RAZÃO TE LEMBRO QUE DESPERTES O DOM DE DEUS, QUE HÁ EM TI PELA IMPOSIÇÃO DAS MINHAS MÃOS. Porque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. (2 Timóteo 1: 5-7).

A “imposição de mãos” é um rito observado pelos antigos segundo a Bíblia. Talvez tenha surgido do ato de abençoar, como em Gênesis 14 quando Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, veio ao encontro de Abrão trazendo-lhe pão e vinho e o abençoou (versos 18-20), ou como Isaque que deu sua bênção a Jacó pensando que ele era o seu primogênito, pois diz o texto em questão que ele, Isaque, apalpou a Jacó antes de abençoá-lo (Gênesis 27: 21-23), mas certamente vemos uma clara menção da imposição de mãos para abençoar, quando Jacó, velho e enfermo, abençoa os filhos de José pondo a sua destra sobre a cabeça de Efraim e a sua mão esquerda sobre a cabeça de Manassés (Gênesis 48: 13-16).  

Nos sacrifícios pelo pecado era ordenado na Lei de Moisés que o ofertante pusesse a sua mão sobre o animal antes dele ser degolado, como está escrito em Levítico capítulo 4, ali diz que se o sacerdote pecasse, ele ofereceria a vítima e poria as mãos sobre ela antes de degolá-la; se acaso a congregação de Israel pecasse, os anciãos que compunham a assembleia de Israel poriam suas mãos sobre a oferta pelo pecado; se fosse um príncipe (ancião, juiz, capitão) ou alguém do povo que pecasse, também procederia de igual modo. O ato de pôr as mãos sobre o sacrifício implicava em identificar-se com a vítima que era morta no lugar do pecador, ou seja, era como se o animal absorvesse a culpa de quem o ofertou. 

Compare os trechos de Levítico 4 e de Tiago 5.                                

Se toda a congregação de Israel errar, sendo isso oculto aos olhos da assembleia, e eles tiverem feito qualquer de todas as coisas que o Senhor ordenou que não se fizessem, assim tornando-se culpados; quando o pecado que cometeram for conhecido, a assembléia oferecerá um novilho como oferta pelo pecado, e o trará diante da tenda da revelação. Os anciãos da congregação porão as mãos sobre a cabeça do novilho perante o Senhor; e imolar-se-á o novilho perante o Senhor. (Levítico 4: 13-15).

Está alguém doente? Chame os presbíteros (anciãos) da igreja; e estes façam oração “sobre ele”, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o restabelecerá; e se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. (Tiago 5: 14,15).

Orar “sobre ele”, sem dúvida quer nos dizer orar com a “imposição de mãos” dos anciãos sobre o enfermo.

TRANSFERÊNCIA DA UNÇÃO.

Então falou Moisés ao Senhor, dizendo: O Senhor, Deus dos espíritos de toda a carne, ponha um homem sobre esta congregação, que saia diante deles, e que entre diante deles, e que os faça sair, e que os faça entrar; para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor. Então disse o Senhor a Moisés: Toma a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e “IMPÕE” A TUA MÃO SOBRE ELE. (Números 27: 15-18).

Josué recebe a incumbência de liderar os israelitas pela imposição das mãos de Moisés. Josué era um dos setenta anciãos que recebera do Espírito que estava sobre Moisés quando este achou o encargo do povo muito pesado (Números 11: 25-28). 

E apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação, e dá-lhe as tuas ordens na presença deles. E PÕE SOBRE ELE DA TUA GLÓRIA, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel. (Números 27: 19,20).

CONSAGRADO A DEUS.

Também cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; TUDO O QUE TOCAR O ALTAR SERÁ SANTO (Êxodo 29: 36,37).

Um cordeiro era oferecido pela manhã, e o outro cordeiro à tarde juntamente com farinha, azeite batido (usado para iluminação Êxodo 27: 20) e vinho; oferecidos como holocausto contínuo (oferta queimada ao Senhor de cheiro suave – vida consagrada) na porta da Tenda da Congregação (testemunho perante Deus e os homens) aonde o Senhor viria, e falaria, e santificaria o Tabernáculo e o povo pela presença da Sua Glória (versos 38-44).

E HABITAREI NO MEIO DOS FILHOS DE ISRAEL, E LHES SEREI O SEU DEUS (ÊXODO 29: 45).

O autor da Carta aos Hebreus escreveu que nós temos um altar no qual não têm direito de comer os que “servem” ao Tabernáculo (Hebreus 13: 10). Na “Tenda da Congregação” havia dois ministérios: os sacerdotes e os levitas.

Os sacerdotes serviam a Deus em favor do povo, os levitas serviam ao Tabernáculo em favor dos sacerdotes e do povo, eles eram os auxiliares dos sacerdotes, eles tomavam os dízimos dos israelitas, mas não podiam comer da oferta consagrada ao Senhor no altar da Tenda do Testemunho, nem dos pães da proposição* ou pães da presença (Êxodo 29: 16-28; Lucas 6: 4).                                                 

*Pão da proposição (em hebraico: lechem haPānīm, literalmente: "Pão da Presença") - refere-se aos bolos ou pães que estavam sempre “presentes” em uma mesa especialmente dedicada, no Tabernáculo, como uma oferenda a Deus (fonte: Wikipédia).

Os capítulos de Êxodo 29 e Números 8 tratam, respectivamente, da consagração dos sacerdotes e dos levitas antes do seu ministério no Tabernáculo. Os ritos descritos nestas passagens como o sacrifício sem mácula (Jesus), o pão e os bolos ázimos (sem fermento) amassados com azeite (Cristo – sem pecado – gerado pelo Espírito Santo), coscorões ázimos untados com azeite (o Filho de Deus, o “ungido” com o Espírito Santo) que são ofertados ao Senhor pelos sacerdotes, a lavagem do sumo-sacerdote e de seus filhos com água à porta da Tenda da Congregação (purificação pela palavra e o batismo), as vestes, o éfode (avental), o peitoral, o cinto, a mitra (turbante) e a coroa sobre a mitra (vestes de justiça – Cristo), a unção com o derramamento do azeite sobre a cabeça de Arão (Espírito Santo derramado) para depois vestir os seus filhos, figuram o processo gradativo da separação do crente com o mundo, um verdadeiro simbolismo da santificação pela Palavra e pelo Espírito Santo, mediante a fé em Cristo Jesus. Note que tanto em Êxodo 29: 7 como em Levítico 8: 12; somente Arão foi ungido, pois ele era o sumo-sacerdote, os seus filhos que exerceriam o sacerdócio com ele não foram, pois estavam debaixo da unção dele; Jesus o “Cristo”, o “Ungido” de Deus é, na Nova Aliança, o nosso sumo-sacerdote e nós crentes estamos debaixo da unção Dele.

Ainda, como exemplo de unção transferida, nós temos Elias e Eliseu, a qual se inicia logo após o “profeta de fogo” lançar sua capa sobre o filho de Safate que, mais tarde, o sucederia (1 Reis 19: 16,19). A confirmação da transferência da unção acontece porque Eliseu persistiu em permanecer junto a Elias até o momento de ele ser tomado por Deus (2 Reis 2: 1-15). E a unção de Eliseu permaneceu nele até mesmo depois de sua morte (veja 2 Reis 13: 21), pois Geazi, o seu moço, não fora digno dela (2 Reis 5: 15-27).   

A imposição de mãos como meio de abençoar fica mais evidente em Mateus 19: 13-15, quando Jesus abençoa algumas crianças impondo-lhes as mãos (veja também Marcos 10: 15,16).

E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, MOVIDO DE GRANDE COMPAIXÃO, “estendeu a mão, e tocou-o”, e disse-lhe: Quero, sê limpo. (Marcos 1: 40,41).

Aqui Jesus nos faz entender qual é o sentido a imposição de mãos para o milagre da cura: “identificar-se com o enfermo”; isto quer dizer, sentir as dores do doente, ter compaixão dele no íntimo da alma, a este sentimento dá-se o nome de “empatia”, isto é, sofrer com os que sofrem (Romanos 12: 14,15).

A CURA PELA IMPOSIÇÃO DE MÃOS.

Os Evangelhos estão recheados de milagres de cura onde Jesus impõe suas santas mãos sobre os doentes para libertá-los de seus males, seja tocando nos olhos dos cegos, seja tomando pela mão os enfermos, pondo ou impondo as suas mãos sobre eles para curá-los.

E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava. (Lucas 4: 40).  

Também em Atos dos Apóstolos há relatos da imposição de mãos na cura de enfermos.

E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão. (Atos 5: 12).        
Detiveram-se, pois, muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios. (Atos 14: 3).                   
E aconteceu estar de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o curou. (Atos 28: 8).

A IMPOSIÇÃO DE MÃOS PARA RECEBER O ESPÍRITO SANTO.

Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. (Atos 8: 14-17).

E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. E estes eram, ao todo, uns doze homens. (Atos 19: 5-7).

A IMPOSIÇÃO DE MÃOS PARA A ORDENAÇÃO DE MINISTROS.

DIÁCONOS – E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. (Atos 6: 5,6).

APÓSTOLOS – E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. (Atos 13: 2,3).

PRESBÍTEROS OU BISPOS – Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. (Tito 1: 5,6).

Apesar de não estar explícito a imposição de mãos no texto acima (Tito 1: 5,6), alguns creem que tanto Tito como Timóteo eram bispos (superintendentes) e, portanto, tinham o encargo de estabelecer outros presbíteros ou bispos em outras igrejas por imposição de mãos. (Nota importante: Nem Tito nem Timóteo são chamados em parte alguma das Cartas Paulinas, de bispos, mas de cooperadores do apóstolo Paulo [Rm. 16:21 e 2 Cor 8:23]; ou seja, eles eram enviados na autoridade apostólica de Paulo às igrejas, quando este não podia ir pessoalmente).

Não desprezes o “dom” que há em ti, o qual te foi “dado por profecia”, com a IMPOSIÇÃO DAS MÃOS DO PRESBITÉRIO. (1 Timóteo 4:14).

A interpretação (exegese) de 1 Timóteo 4 não deixa muita margem para outro entendimento de que o “dom dado por profecia” a Timóteo era o seu ministério; diferente do “dom” de Deus que existia nele pela imposição das mãos do apóstolo Paulo descrito em 2 Timóteo 1: 6; o qual devia ser despertado por ele mesmo.  

O CUIDADO COM UM MINISTÉRIO SADIO. 

Eu o exorto solenemente, diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo. “Não se precipite em impor as mãos sobre ninguém” e não participe dos pecados dos outros. Conserve-se puro. (1 Timóteo 5: 21,22).

Em aos Hebreus cap. 6 o escritor chama a imposição de mãos, de “rudimentos da doutrina de Cristo”, quer dizer, um dos fundamentos da doutrina cristã, mas que infelizmente não é ensinado aos crentes de hoje. Sabemos, porém, que tudo o que não vem da fé é pecado (Romanos 14: 23), então impor as mãos sem fé, viver sem fé, pregar sem fé, orar sem fé, jejuar sem fé e ler a Bíblia sem fé é pura perda de tempo, pois quem faz estas coisas assim, peca. Lembremo-nos: “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11: 6).


L. M. S.

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