Este é um assunto esquecido no meio cristão; quero neste
estudo abordar, mediante a graça de Deus, os aspectos desta ordenança
respaldada pelas Escrituras.
Trazendo
à memória a fé não fingida que há em ti a qual habitou primeiro em tua avó
Loide, e em tua mãe Eunice e estou certo de que também habita em ti. POR ESTA
RAZÃO TE LEMBRO QUE DESPERTES O DOM DE DEUS, QUE HÁ EM TI PELA IMPOSIÇÃO DAS
MINHAS MÃOS. Porque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação. (2 Timóteo 1: 5-7).
A “imposição de mãos” é
um rito observado pelos antigos segundo a Bíblia. Talvez tenha surgido do ato
de abençoar, como em Gênesis 14 quando Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo,
veio ao encontro de Abrão trazendo-lhe pão e vinho e o abençoou (versos 18-20),
ou como Isaque que deu sua bênção a Jacó pensando que ele era o seu
primogênito, pois diz o texto em questão que ele, Isaque, apalpou a Jacó antes
de abençoá-lo (Gênesis 27: 21-23), mas certamente vemos uma clara menção da
imposição de mãos para abençoar, quando Jacó, velho e enfermo, abençoa os
filhos de José pondo a sua destra sobre a cabeça de Efraim e a sua mão esquerda
sobre a cabeça de Manassés (Gênesis 48: 13-16).
Nos sacrifícios pelo
pecado era ordenado na Lei de Moisés que o ofertante pusesse a sua mão sobre o
animal antes dele ser degolado, como está escrito em Levítico capítulo 4, ali
diz que se o sacerdote pecasse, ele ofereceria a vítima e poria as mãos sobre
ela antes de degolá-la; se acaso a congregação de Israel pecasse, os anciãos que
compunham a assembleia de Israel poriam suas mãos sobre a oferta pelo pecado;
se fosse um príncipe (ancião, juiz, capitão) ou alguém do povo que pecasse,
também procederia de igual modo. O ato de pôr as mãos sobre o sacrifício
implicava em identificar-se com a vítima que era morta no lugar do pecador, ou
seja, era como se o animal absorvesse a culpa de quem o ofertou.
Compare os trechos de Levítico 4 e de Tiago 5.
Se
toda a congregação de Israel errar, sendo isso oculto aos olhos da assembleia,
e eles tiverem feito qualquer de todas as coisas que o Senhor ordenou que não
se fizessem, assim tornando-se culpados; quando o pecado que cometeram for
conhecido, a assembléia oferecerá um novilho como oferta pelo pecado, e o trará
diante da tenda da revelação. Os anciãos da congregação porão as mãos sobre a
cabeça do novilho perante o Senhor; e imolar-se-á o novilho perante o Senhor. (Levítico 4:
13-15).
Está
alguém doente? Chame os presbíteros (anciãos) da igreja; e estes façam oração
“sobre ele”, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o
doente, e o Senhor o restabelecerá; e se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados. (Tiago
5: 14,15).
Orar “sobre ele”, sem
dúvida quer nos dizer orar com a “imposição de mãos” dos anciãos sobre o
enfermo.
TRANSFERÊNCIA DA UNÇÃO.
Então
falou Moisés ao Senhor, dizendo: O Senhor, Deus dos espíritos de toda a carne,
ponha um homem sobre esta congregação, que saia diante deles, e que entre
diante deles, e que os faça sair, e que os faça entrar; para que a congregação
do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor. Então disse o Senhor a
Moisés: Toma a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e “IMPÕE” A
TUA MÃO SOBRE ELE. (Números 27:
15-18).
Josué recebe a incumbência
de liderar os israelitas pela imposição das mãos de Moisés. Josué era um dos
setenta anciãos que recebera do Espírito que estava sobre Moisés quando este
achou o encargo do povo muito pesado (Números 11: 25-28).
E
apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação, e
dá-lhe as tuas ordens na presença deles. E PÕE SOBRE ELE DA TUA GLÓRIA, para
que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel. (Números 27: 19,20).
CONSAGRADO A DEUS.
Também
cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e
purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo.
Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será
santíssimo; TUDO O QUE TOCAR O ALTAR SERÁ SANTO (Êxodo 29: 36,37).
Um cordeiro era
oferecido pela manhã, e o outro cordeiro à tarde juntamente com farinha, azeite
batido (usado para iluminação Êxodo 27: 20) e vinho; oferecidos como holocausto
contínuo (oferta queimada ao Senhor de cheiro suave – vida consagrada) na porta
da Tenda da Congregação (testemunho perante Deus e os homens) aonde o Senhor
viria, e falaria, e santificaria o Tabernáculo e o povo pela presença da Sua
Glória (versos 38-44).
O autor da Carta aos Hebreus escreveu que nós temos um
altar no qual não têm direito de comer os que “servem” ao Tabernáculo (Hebreus
13: 10). Na “Tenda da Congregação” havia dois ministérios: os sacerdotes e os
levitas.
Os sacerdotes serviam a Deus em favor do povo, os levitas
serviam ao Tabernáculo em favor dos sacerdotes e do povo, eles eram os
auxiliares dos sacerdotes, eles tomavam os dízimos dos israelitas, mas não
podiam comer da oferta consagrada ao Senhor no altar da Tenda do Testemunho,
nem dos pães da proposição* ou pães da presença (Êxodo 29: 16-28; Lucas 6: 4).
*Pão da proposição (em hebraico: lechem haPānīm, literalmente: "Pão da Presença") - refere-se aos
bolos ou pães que estavam sempre “presentes” em uma
mesa especialmente dedicada, no Tabernáculo, como uma oferenda a Deus (fonte:
Wikipédia).
Os capítulos de Êxodo 29 e Números 8
tratam, respectivamente, da consagração dos sacerdotes e dos levitas antes do
seu ministério no Tabernáculo. Os ritos descritos nestas passagens como o
sacrifício sem mácula (Jesus), o pão e os bolos ázimos (sem fermento) amassados
com azeite (Cristo – sem pecado – gerado pelo Espírito Santo), coscorões ázimos
untados com azeite (o Filho de Deus, o “ungido” com o Espírito Santo) que são
ofertados ao Senhor pelos sacerdotes, a lavagem do sumo-sacerdote e de seus
filhos com água à porta da Tenda da Congregação (purificação pela palavra e o
batismo), as vestes, o éfode (avental), o peitoral, o cinto, a mitra (turbante)
e a coroa sobre a mitra (vestes de justiça – Cristo), a unção com o
derramamento do azeite sobre a cabeça de Arão (Espírito Santo derramado) para
depois vestir os seus filhos, figuram o processo gradativo da
separação do crente com o mundo, um verdadeiro simbolismo da santificação pela
Palavra e pelo Espírito Santo, mediante a fé em Cristo Jesus. Note que tanto em Êxodo 29: 7 como em Levítico
8: 12; somente Arão foi ungido, pois ele era o sumo-sacerdote, os seus filhos
que exerceriam o sacerdócio com ele não foram, pois estavam debaixo da unção
dele; Jesus o “Cristo”, o “Ungido” de Deus é, na Nova Aliança, o nosso
sumo-sacerdote e nós crentes estamos debaixo da unção Dele.
Ainda, como exemplo de unção
transferida, nós temos Elias e Eliseu, a qual se inicia logo após o “profeta de
fogo” lançar sua capa sobre o filho de Safate que, mais tarde, o sucederia (1
Reis 19: 16,19). A confirmação da transferência da unção acontece porque Eliseu
persistiu em permanecer junto a Elias até o momento de ele ser tomado por Deus
(2 Reis 2: 1-15). E a unção de Eliseu permaneceu nele até mesmo depois de sua
morte (veja 2 Reis 13: 21), pois Geazi, o seu moço, não fora digno dela (2 Reis
5: 15-27).
A imposição de mãos como meio de abençoar fica mais evidente em Mateus 19: 13-15, quando Jesus abençoa algumas crianças impondo-lhes as mãos (veja também Marcos 10: 15,16).
E
aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante
dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, MOVIDO DE GRANDE COMPAIXÃO,
“estendeu a mão, e tocou-o”, e disse-lhe: Quero, sê limpo. (Marcos 1: 40,41).
Aqui Jesus nos faz entender qual é o sentido a imposição
de mãos para o milagre da cura: “identificar-se com o enfermo”; isto quer
dizer, sentir as dores do doente, ter compaixão dele no íntimo da alma, a este
sentimento dá-se o nome de “empatia”, isto é, sofrer com os que sofrem (Romanos
12: 14,15).
A
CURA PELA IMPOSIÇÃO DE MÃOS.
Os Evangelhos estão recheados de
milagres de cura onde Jesus impõe suas santas mãos sobre os doentes para
libertá-los de seus males, seja tocando nos olhos dos cegos, seja tomando pela
mão os enfermos, pondo ou impondo as suas mãos sobre eles para curá-los.
E, ao
pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e,
pondo as mãos sobre cada um deles, os curava. (Lucas 4: 40).
Também em Atos dos Apóstolos há relatos
da imposição de mãos na cura de enfermos.
E
muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E
estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão. (Atos 5: 12).
Detiveram-se, pois, muito tempo, falando
ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça,
permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios. (Atos 14: 3).
E aconteceu estar de cama enfermo de febre e
disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos
sobre ele, e o curou. (Atos 28: 8).
A IMPOSIÇÃO DE MÃOS PARA RECEBER O
ESPÍRITO SANTO.
Os
apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a
palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram
por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha
ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes
impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. (Atos 8: 14-17).
E os
que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. E
estes eram, ao todo, uns doze homens. (Atos 19: 5-7).
A IMPOSIÇÃO DE MÃOS PARA A ORDENAÇÃO DE
MINISTROS.
DIÁCONOS – E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram
Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor,
e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante
os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. (Atos 6: 5,6).
APÓSTOLOS – E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito
Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.
Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. (Atos 13: 2,3).
PRESBÍTEROS OU BISPOS – Por esta causa te deixei em Creta,
para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em
cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for
irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam
ser acusados de dissolução nem são desobedientes. (Tito 1: 5,6).
Apesar de não estar explícito a
imposição de mãos no texto acima (Tito 1: 5,6), alguns creem que tanto Tito como
Timóteo eram bispos (superintendentes) e, portanto, tinham o encargo de
estabelecer outros presbíteros ou bispos em outras igrejas por imposição de mãos. (Nota importante: Nem Tito nem Timóteo são chamados em parte alguma das Cartas Paulinas, de bispos, mas de cooperadores do apóstolo Paulo [Rm. 16:21 e 2 Cor 8:23]; ou seja, eles eram enviados na autoridade apostólica de Paulo às igrejas, quando este não podia ir pessoalmente).
Não
desprezes o “dom” que há em ti, o qual te foi “dado por profecia”, com a
IMPOSIÇÃO DAS MÃOS DO PRESBITÉRIO. (1
Timóteo 4:14).
A interpretação
(exegese) de 1 Timóteo 4 não deixa muita margem para outro entendimento de que
o “dom dado por profecia” a Timóteo era o seu ministério; diferente do “dom” de Deus que existia nele pela imposição das mãos do apóstolo
Paulo descrito em 2 Timóteo 1: 6; o qual devia ser despertado por ele mesmo.
O CUIDADO COM UM MINISTÉRIO SADIO.
Eu o exorto solenemente, diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo. “Não se precipite em impor as mãos sobre ninguém” e não participe dos pecados dos outros. Conserve-se puro. (1 Timóteo 5: 21,22).
Em aos Hebreus cap. 6 o escritor chama a imposição de
mãos, de “rudimentos da doutrina de Cristo”, quer dizer, um dos fundamentos da
doutrina cristã, mas que infelizmente não é ensinado aos crentes de hoje.
Sabemos, porém, que tudo o que não vem da fé é pecado (Romanos 14: 23), então
impor as mãos sem fé, viver sem fé, pregar sem fé, orar sem fé, jejuar sem fé e
ler a Bíblia sem fé é pura perda de tempo, pois quem faz estas coisas assim,
peca. Lembremo-nos: “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11: 6).
L. M. S.
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