Existe muita controvérsia sobre a palavra hebraica “nefilim”, que aparece na
Bíblia em Gênesis 6:4 e Números 13: 33. Embora não exista no dicionário
português, ela se encontra nas versões PJFA e NVI como “nefilins” (embora
“nefilim” em hebraico já seja plural).
Segundo os filólogos, essa palavra hebraica tem origem em “nafal”, com muitos
significados ao redor de “cair”, como “superar, derrotar, fazer cair”, próprio
de homens violentos. A tradução inglesa antiga conhecida como King James
Version traduziu a palavra como “gigantes” por influência da Vulgata Latina de
Jerônimo. Mas o contexto de Gênesis 6 não revela que eram de grande estatura
física, e possivelmente aquela tradução foi influenciada pelo contexto de
Números 13:33 onde os filhos de Anaque são chamados de “nefilins” porque “são descendentes
dos nefilins”: em Deuteronômio (1:28; 2:10,11,21; 9:2) e em Josué (11:21,22;
14:12,15) encontramos menção dos anaquins, descendentes dos nefilins “um povo grande e
alto” (ex. Deuteronômio 2:10). Os tradutores modernos, cautelosamente,
evitam agora traduzir “nefilim” para alguma palavra portuguesa. Isto
nos leva a considerar algumas ideias que têm surgido sobre os contextos em que
essa palavra foi usada.
Vejamos Gênesis 6:1-5, conforme aparece na NVI: “Quando os homens
começaram a multiplicar-se na terra e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus
viram que as filhas dos homens eram bonitas, e escolheram para si aquelas que
lhes agradaram. Então disse o Senhor: Por causa da perversidade do homem, meu Espírito
não contenderá com ele para sempre, ele só viverá cento e vinte anos. Naqueles
dias havia nefilins na terra, e também posteriormente, quando os filhos de Deus
possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis
do passado, homens famosos. O Senhor viu que a perversidade do homem tinha
aumentado na terra e que toda a inclinação do seu coração era sempre e somente
o mal”.
Essa é a pontuação escolhida pelos tradutores, pois os manuscritos
hebraicos antigos não têm pontuação. Ela resulta em uma sequência de sentenças,
cujo relacionamento não é, necessariamente, progressiva.
A primeira informa que a humanidade se multiplicava – o que era o desejo
de Deus (Gênesis 1: 28). Também esclarece que os “filhos de Deus” viram que as “filhas dos homens” eram bonitas, e
escolhiam as que mais lhes agradaram. Parece muito natural que assim fosse. Mas
há controvérsia sobre isso: como na sentença seguinte o Senhor castiga o homem
por causa da sua perversidade, decerto haveria algum mal naquele casamento
entre os “filhos de Deus” e as belas “filhas dos homens”! Se assim fosse, a explicação seria obtida ao
descobrir quem eram os “filhos de Deus” que se distinguiam das “filhas dos homens”, mas mesmo assim
eles casavam-se com elas. As teorias mais espalhadas sobre quem eram os “filhos
de Deus” são:
1. Os “filhos de Deus” seriam perversos:
- Seriam anjos maus, pois
todos os anjos são chamados “filhos de Deus” no livro de Jó. Eles
teriam a habilidade de fecundar as mulheres para que elas tivessem filhos,
que seriam os nefilins, usando, como exemplo, o fato que o Espírito Santo
fecundou Maria. Contra isto opomos que o Espírito Santo é Deus criador, e
as Escrituras não indicam qualquer possibilidade de uma criatura
espiritual fazer tal coisa. Além disso, o Senhor Jesus informou que os
anjos não casam, nem se dão em casamento mesmo entre si. Observada a
sequência, vemos que os nefilins já existiam antes disso.
- Para contornar esse
problema, outra teoria é que anjos maus teriam tomado posse de homens para
através deles perversamente ter prole das mulheres. Opomos que, embora se
saiba pelo relato bíblico que demônios se apossam de pessoas, isto não dá
direito aos homens possessos de se chamarem “filhos de Deus”.
2. Os “filhos de Deus” seriam os antigos santos:
- Haveria uma linha de
descendentes piedosos a partir de Adão através do seu filho Sete, e seu
filho Enos, pois “nessa época começou-se a invocar o nome do Senhor”
(Gênesis 4: 26). Estes seriam os “filhos de Deus”, fazendo parte da
ascendência de Maria (Lucas 3: 23-38). A teoria tem muita aceitação, pois
em Lucas 3: 38, Adão é chamado de: “filho de Deus”.
- Finalmente, é mais provável
que todos os homens piedosos fossem chamados “filhos de Deus” neste
pequeno trecho, assim como são os que agora colocam a sua fé no Senhor
Jesus Cristo. Lamentavelmente, assim como acontece agora, os homens
piedosos eram atraídos pela formosura física de mulheres carnais, e do seu
casamento vinham filhos que acompanhavam as suas mães, ímpios e distantes
de Deus. Assim se explica o fato que, de toda a descendência de Adão,
apenas um homem, Noé com sua família, foi salvo do extermínio. É de se
notar que os seus antecessores da linhagem de Sete morreram todos por
causas naturais antes do dilúvio, assim não sofrendo o castigo da ira de
Deus.
A segunda sentença parece nos dizer que, naquele tempo (algum tempo
antes do dilúvio) o Senhor determinou que o Seu Espírito não iria contender com
o homem para sempre e que sua vida seria reduzida para cento e vinte anos.
Muitos entendem que isto aconteceu cento e vinte anos antes do dilúvio, quando
mandou Noé fazer a arca, e a humanidade teve esse tempo para se arrepender. A
terceira sentença nos fala dos nefilins que estavam na terra: existiram tanto
antes como depois dos casamentos mistos, logo é incorreto pensar que foram
resultado deles. A quarta sentença esclarece que os nefilins foram os heróis do
passado, homens famosos.
Enfim temos uma descrição, curta, mas bastante esclarecedora, sobre quem
eram eles. Acrescentada ao que se sabe da origem da palavra, que vimos acima,
concluímos que os nefilins seriam do tipo dos que hoje em dia chamamos “barões”
da política, da indústria, do comércio, das drogas, etc.
Os “gigantes” – não em estatura necessariamente – mas em domínio, poder,
tirania, liderança pela força; homens como Napoleão, Stalin, Hitler e Mussolini
seriam alguns dos nefilins mais recentes.
A última sentença nos diz que o Senhor viu a perversidade do homem
aumentando sobre a terra, “e que toda a inclinação do seu coração era sempre e
somente o mal”. Tão incorrigível era a situação da humanidade que Ele a destruiu
completamente com o dilúvio, salvando apenas Noé e a sua família e exemplares
dos animais que também foram destruídos.
Os nefilins daquele tempo desapareceram, mas apareceram outros em Canaã:
“Também vimos ali os nefilins, isto é, os filhos de Anaque, que são
descendentes dos nefilins; éramos aos nossos olhos como gafanhotos; e assim
também éramos aos seus olhos” (Números 13: 33 - PJFA). Não podiam
ser descendentes dos nefilins pré-diluvianos, pois não sobrou nenhum, a não ser
que Noé fosse um deles, o que é muito improvável, além disso, toda a humanidade
depois de Noé era descendente dele e, como ele, de Sete e de Adão… Os espias
incrédulos poderiam estar exagerando a grandeza dos anaquins. Todos os anaquins
foram destruídos pelos israelitas por ordem do SENHOR, salvo alguns que ficaram
em Gaza, em Gate e em Asdode (Josué 11: 22). Curiosamente Golias, com cerca de
três metros de altura, campeão dos filisteus, veio de Gate para combater os
israelitas, e foi morto por Davi.
Esta é uma advertência aos crentes contra tomar sobre si o jugo desigual
no casamento. Eles correm risco de desgraça, de ter o pesar de ver os seus
filhos distantes do Senhor, irreverentes e desobedientes. Mesmo que se tornem
poderosos e influentes como os nefilins, estão destinados à destruição como
foram aqueles.
A humanidade em nossos dias está assemelhando-se à dos tempos
antediluvianos, com sua perversidade, inclinação para o mal. Rebeldia contra
Deus, iguais aos nefilins. Estamos nos aproximando dos “dias do Filho do
homem” (Lucas 17: 26,27), portanto estejamos vigilantes e prontos para a Sua vinda
(Mateus 24: 37-44).
R
David Jones
Nenhum comentário:
Postar um comentário