MANANCIAL

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"Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada". (Cânticos 4:12)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

OS DONS ESPIRITUAIS E O PROPÓSITO DELES NA IGREJA – Parte 1.

OS DONS ESPIRITUAIS E O PROPÓSITO DELES NA IGREJA – Parte 1. (13 de Fev. 2024).

Textos: 1 Coríntios 12:1-14 e 27-31.

Paulo inicia sua doutrina no cap. 12 de 1 Cor com esta observação: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”. Depois, Paulo explica: “Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados”. Ou seja, o modo de culto pagão não é o mesmo modo bíblico, isto é, cristão; os coríntios eram, antes de se converterem a Deus, pessoas levadas a adoração de ídolos, e a liturgia do culto idólatra, sempre permeada de ritos escandalosos, não servem de parâmetro para o culto cristão. Pois pela história, tanto a bíblica [2Crôn.33:1-7] como a secular, podemos conhecer as práticas da idolatria em seus ritos, tais como: sacrifícios de crianças e de adultos, prostituição cultual – no tempo de Paulo, na cidade de Corinto havia essa prática – a sodomia, automutilações, êxtases – que são contorções espasmódicas decorrentes de possessões demoníacas – as feitiçarias – que se destaca pelo uso de poções e encantamentos – a necromancia – que é a consulta aos mortos, como no espiritismo – agouros – que são profecias e adivinhações do futuro por meio de observações dos eventos naturais, de nuvens ou das estrelas – o culto aos astros e aos animais e etc.          

Sendo a superstição associada aos rituais pagãos, o culto cristão não pode se igualar aos ritos daqueles que servem aos demônios [1Cor.10:19-21]; mas infelizmente por falta de doutrina bíblica, principalmente nas igrejas neopentecostais e até em algumas pentecostais, vários costumes idólatras têm-se infiltrado no meio dos evangélicos como se fossem práticas bíblicas. É comum ver coisa do candomblé e da umbanda sendo associadas à liturgia das igrejas, tais como: dançar girando em roda, músicas com ritmos próprios das religiões africanas, espasmos, êxtases, “cair no poder”, profecias e visões sem sentido bíblico, práticas semelhantes a da necromancia (já houve casos de crentes que foram a túmulos de servos de Deus para adquirir a “unção” que o morto tinha em vida, e para justificar esse absurdo, esses crentes místicos usam a passagem de 2 Reis 13:21), as feitiçarias como o uso de sal grosso, de “óleos ungidos” específicos para cada situação, levar uma rosa ungida para abençoar o lar, beber ou mergulhar na água do rio Jordão para curar as enfermidades, as peregrinações a lugares “sagrados”, usar textos bíblicos fora de seu contexto e\ou até usá-los como amuletos – exemplo: manter a Bíblia aberta no Salmo 91 para abençoar o lar – e etc.  

Diante dessas idolatrias comuns de pagãos, onde os seus deuses se contradizem, Paulo enfatiza: ³ “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”. Então, no meio cristão, só Jesus é o Senhor e não podemos misturar a verdade de Cristo, com a mentira da idolatria; os deuses do mundo se fundem em confusão e se contradizem, porém os seguidores de Jesus Cristo, não vivem em meio à confusão, pois seguem a verdade e amam a verdade (Ef.4:14,15), pois somente a verdade liberta do pecado e dos falsos deuses (João 8:32).

Os dons – em grego: “carisma” – “presentes”; são concedidos pelo Espírito Santo, ou seja, não são por merecimento, pois são presentes, e presentes são recebidos por meio da doação, isto é, o Espírito Santo doa, segundo a graça de Deus, os “carismas” para os crentes fiéis, a fim de capacitá-los para serviço na obra de Deus; os reis de Israel e os sacerdotes eram “ungidos” com óleo sagrado para desempenharem suas funções, pois sendo Israel um reino sacerdotal, os seus líderes careciam do Espírito de Deus sobre eles, capacitando-os para guiar o povo eleito do Senhor, portanto, na Igreja, o Israel de Deus, também o Espírito Santo concede dons aos ministros e os demais que servem na Casa de Deus, preparando-os e moldando-os para serem úteis na obra evangelística do mundo e nos demais serviços da Igreja; portanto, os crentes devem buscar do Senhor, a capacitação necessária para cumprirem seus ministérios.  

⁴ Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Os dons são dádivas do Espírito Santo. ⁵ E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Os ministérios pertencem ao Senhor Jesus, e são outorgados por Ele aos seus servos fiéis, mas só depois do Espírito Santo tê-los habilitados para o serviço eclesiástico; porque diz a Escritura: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens... ¹¹ E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas e outros para pastores de mestres, ¹² querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo” [Ef.4:8,11,12]. 

⁶ E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. - Estas “operações” são os resultados, isto é, o Espírito capacita o servo, o Senhor Jesus chama-o para o serviço, e Deus Pai opera os resultados finais. Explicando melhor, temos o texto de 1Cor.3:6 que diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”; ou seja, o fato de alguém ter dons espirituais, e de ter sido chamado para o serviço na Casa de Deus, não lhe confere o mérito do sucesso, mas quem dá o “energeo” (energia: poder para produzir bons resultados na obra – Fl.2:13) é Deus, pois todo poder necessário para o desempenho vem dEle.  

⁷ Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. - Nenhuma capacitação vinda de Deus é sem propósito, os dons são distribuídos conforme necessidade da Igreja, a sua utilização deve sempre glorificar a Jesus, o Cabeça da Casa de Deus, e também ao dono da Seara, isto é, a Deus Pai; por isso mesmo que alguns que aleguem possuir dons espirituais diferentes dos descritos nas Escrituras, tais dons são falsos; pois que utilidade tem o “dom de rir”, ou de “cair no poder”, ou de imitar animais, ou do “sapatinho de fogo”? As visões de Deus sempre se deram para despertar e instruir os crentes sobre a justiça e os propósitos divinos, mas nunca sem um destes sentidos; se alguém tem uma visão ou sonho e acredita que são manifestações dadas pelo Senhor, que então procure a interpretação racionalmente bíblica, pois se não houver uma, então, trata-se apenas de cansaço da carne (Ecl.5:3a. “Da muita ocupação vêm os sonhos...”). 

⁸ Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; - Certo pastor disse: “A diferença entre ‘sabedoria’ e ‘conhecimento’; é que, o conhecimento nos diz que o tomate é uma fruta, mas a sabedoria nos capacita a não pôr tomates em uma salada de frutas”. Mas, de certo modo, a palavra do conhecimento é a capacidade do crente de descobrir mistérios escondidos nas Escrituras, ou nos sonhos e nas visões, e assim revelá-los aos crentes com o propósito da edificação do Corpo de Cristo; já a palavra de sabedoria envolve o aconselhamento bíblico e secular na compreensão das mais diversas situações da vida; como exemplo temos o caso de José no Egito, que interpretou os sonhos de faraó e também o instruiu como seu reino poderia sobreviver aos sete anos de seca que estavam por vir [Gn.41]; também, o outro exemplo que temos nas Escrituras é o de Daniel em Babilônia, pois quando este deu a interpretação do sonho da “grande árvore” a Nabucodonosor, Daniel o aconselhou ao arrependimento [Dn.4:20-27].    

⁹ E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; - A fé aqui não se trata daquela inicial que temos na nossa conversão, mas trata-se de uma fé superior, daquelas que “movem montanhas” [Mt.17:20], mas ainda que não tenhamos alcançado essa fé classificada como um dos dons do Espírito Santo, isto não quer dizer que ela não está ao nosso alcance, pois Paulo mesmo diz: “Procurai com zelo os melhores dons” [1Cor.12:31]; já no tocante aos dons de curar, quem o possui é também quem prega a Palavra de Deus, pois os discípulos ao serem comissionados e capacitados a pregar o Evangelho, segundo o que Marcos escreveu no cap. 3:13-15, e Lucas 10:1-9, as curas e sinais são uma confirmação do que foi pregado, isto é, o Espírito Santo dá testemunho da verdade das Escrituras, cooperando com o pregador por meio de sinais e curas [Mc.16:20]. Filipe, um dos sete diáconos, por causa da grande perseguição deflagrada em Jerusalém contra a igreja, seguiu para Samaria, e ali “anunciava a Jesus Cristo” para os samaritanos, e as multidões atendiam ao que o evangelista dizia, pois o ouviam e viam os prodígios que Deus operava por meio dele [At.8:4-8]. Portanto, só há cura, sinais e milagres, se houver pregação genuína da Palavra de Deus.  

¹⁰ E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. - Quanto a operação de maravilhas, podemos destacar a multiplicação dos pães em Mt.14:19-21 e 15:36-38, o domínio sobre o clima como em Mt.8:24-26, e sobre os elementos como em Mt.14:26-29; já o dom de discernir espíritos é flagrante nos textos de João 2:24,25 e em Atos 5:1-4; quanto às línguas, o capítulo 14 de 1 Coríntios nos dá maiores detalhes. 

¹¹ Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. - Podemos entender que como servos, não nos compete escolher o trabalho e nem as “ferramentas” para a obra que executamos na seara de Deus, Ele é o Senhor e nós somos servos; mais adiante Paulo dá explicações da razão da distribuição dos dons ser uma particularidade do Espírito Santo: ¹² “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também”. - Isto é, no corpo humano quem comanda os seus membros é a cabeça, se algum dos membros se move sem a ordem da cabeça, então se trata de um reflexo involuntário, um espasmo e isto pode indicar um membro doente; e cada membro tem sua função de acordo com seu propósito no corpo: a mão, o pé, o ouvido, a boca, os demais membros, todos têm as suas funções já de antemão preparadas e aptas para trabalharem pelo bom funcionamento do corpo.

¹³ Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. - Este batismo em um Espírito e o beber de um mesmo Espírito, referidos aqui, diz respeito ao que Cristo mencionou em João 7:37-39 (Se alguém tem sede venha a mim e beba; quem crer em mim... rios de águas vivas fluirão do seu interior; isto disse do Espírito que haviam de receber os que cressem nEle...), então não se trata da “segunda bênção” que é a virtude do alto descrita em Lucas 24:49 e confirmada em Atos 2.

¹⁴ Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. - Deus nos chama, nos capacita, e nos põe em ordem na igreja de forma interdependente, ou seja, os membros são postos no Corpo de Cristo de forma ordenada para que cada crente seja dependente um do outro; não existe super crente, não existe uns mais ungidos que os outros; na Antiga Aliança o sumo sacerdote era ungido, mas os seus filhos eram lavados com água e vestidos com os paramentos sacerdotais [veja: Lv.8:6,7,12,13], ou seja, os filhos do sumo sacerdote estavam debaixo da unção do seu pai; desta mesma sorte, na Igreja de Cristo, somente Cristo é o Sumo sacerdote e nós, como filhos de Deus, estamos debaixo da Sua Unção; mas assim como na Aliança Mosaica havia ministros do Tabernáculo, também na Nova Aliança, a do Sangue de Cristo – a Aliança do Espírito, Jer.31:33 e Hb.10:16 - há servos de Deus separados para ministrar diante do Senhor para o povo dEle, e é por isso que há uma hierarquia dentro da Igreja como vemos em Ef.4:11-13, os apóstolos vem, depois os profetas, logo após os evangelistas, pastores e mestres, e todos estes sevem na Igreja, como as juntas e os ligamentos servem ao corpo humano [ver: Ef.4:16 e Cl.2:19], pois unem os membros ao Corpo de Cristo, e fazem isto por meio da sã doutrina da Palavra de Deus, corrigindo os que se desviam do “Caminho, da verdade, e da vida”, no uso correto das Escrituras, e assim pastorear, conduzir o rebanho do Senhor na edificação e no aperfeiçoamento até a vinda do Senhor. 

1 Coríntios 12:27-31.

²⁷ Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. - Como já vimos antes, a Unção de Cristo, que é o Seu Espírito Santo, nos dirige e nos move em direção a Cristo, e isto por meio da fé no Evangelho, pois a fé é sempre uma persuasão divina despertada em nosso espírito [Ef.2:8], pois a fé é do Espírito de Deus para o espírito do homem, e ninguém pode ser de Deus sem ter o Espírito Santo habitando nele [João 3:6 e Rm.8:9].

²⁸ E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. - Vemos quão grande é a variedade de serviços e funções designadas por Deus para sua obra neste mundo: 1. Apóstolos - são os “enviados” aos povos para anunciar o Evangelho e fundar congregações; 2. Profetas – de uma maneira geral são os que pregam a Palavra, pois falam em Nome do Senhor, mas também são aqueles que também trazem revelações dentro das congregações [1Cor.14:3]. 3. Mestres – crentes capacitados para ensinar as Escrituras nas congregações. 4. Milagres – como já vimos antes que, além de ser um dos dons espirituais [1Cor12:10], também é uma manifestação do Espírito Santo em cooperação com os pregadores, em testemunho de que a Palavra de Deus foi anunciada, e que ela é a única verdade. 5. Socorros – esta obra é atendida na ministração de suprimentos materiais pelos diáconos [Atos 6:1-7], mas também envolve socorros espirituais, e isto se dá por meio do dom da palavra de sabedoria, para aconselhamento nas dificuldades espirituais ou emocionais dos crentes. 6. Governos - serviços administrativos, os quais visam a organização na obra do Evangelho; Paulo vai dizer mais tarde aos coríntios que ninguém milita as suas próprias custas, e que quem planta deve ser participante dos frutos que plantou [1Cor.9:7], assim a Igreja deve se organizar para que “haja mantimento” [Ml.3:10] e sejam supridas as necessidades que surgirem, mas isto não se resume apenas ao pão cotidiano, mas também nos aspectos legais, morais, éticos e estruturais do povo de Deus; é por isso que a palavra bispo – epíscopos – significa superintendente, ou seja, um administrador.  

²⁹ Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? ³⁰ Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos? ³¹ Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente. 

Cabe a cada membro do Corpo de Cristo procurar com zelo os dons do Espírito Santo, e se conformar, se ajustar e se sujeitar, em primeiro lugar a Deus e depois àqueles a quem a Igreja de Cristo foi confiada, pois os ministros do Evangelho servem a Cristo para responder pelos santos, tanto aos homens como ao Senhor, tanto agora como no dia do juízo, pois aos líderes, Deus os julgará com maior rigor [Mt.7:22,23 e Tg.3:1]. Amém!

Ev. Levi.

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