MANANCIAL

MANANCIAL
"Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada". (Cânticos 4:12)

quinta-feira, 5 de julho de 2018

QUANDO VELHOS, AINDA DARÃO FRUTOS... (Sl 92.14)


A glória do jovem é a sua força; e a beleza dos velhos são as cãs (Provérbios 20: 29).


O texto a seguir é uma história contada por alguém que já foi um moço como vocês, mas agora é um ancião como nós.

Numa vez que viajei ao Canadá, permaneci por lá quase um ano inteiro e nesse período tive o privilégio de assistir o espetáculo das mudanças das estações daquele país, pois numa região de clima temperado as estações do ano são bem definidas e assim podemos distingui-las visivelmente.

A primavera certamente é a mais bela, tanto pelo que se vê como pelo que se pode sentir, pois o colorido das flores cobre a terra e os cheiros que elas exalam perfumam o ar. A primavera e o verão evidenciam a vida; as plantas se enfeitam de flores, as borboletas voam desajeitadamente belas, as abelhas incansavelmente polinizam, e no verão os animais garantem, pelo acasalamento, a próxima geração de sua espécie... Enfim, é o tempo da juventude: laboriosa, viva, bela e fugaz.

Quando cheguei ao Canadá a primavera declinava, e quando parti, o inverno já estava perto do seu fim. Um amigo que conheci por lá me disse certa vez, que a primavera é o tempo do despertar; porque as árvores depois dos rigores do inverno, brotam; os ursos saem de suas tocas, e as fêmeas vêm para fora com os seus filhotes. Portanto a primavera, tal qual nossa infância, é o renovo é o nascimento; é o acordar da vida... Porém, o que está vivo não se estagna, mas segue o seu curso, pois assim como as estações do ano estão ligadas num ciclo que prepara a chegada de uma no término da outra, as fases da nossa existência neste mundo também obedecem a esse ciclo preparatório; nós nascemos, crescemos, frutificamos, envelhecemos e adormecemos; uma lei da qual ninguém pode furtar-se.

Apesar da primavera e do verão abarrotar de encantos os meus sentidos, o melhor ainda estava por vir. Se na primavera a terra desperta, no verão ela se embeleza de frutos; mas é no outono que esses frutos crescem e amadurecem, e é no fim dele que esses frutos são colhidos.

Como eu já disse antes, o final de uma estação é a preparação para o início de outra, e é marcante a visão dos carvalhos e bordos derrubando suas folhas vermelhas e amarelas para cobrir o chão com um manto colorido de uma colcha de retalhos; é como se eles quisessem, despindo-se de sua beleza, proteger o solo do frio que está chegando.


As últimas chuvas caem, a temperatura também, e a branca neve cobre todo o cenário. O inverno chegou! Olhar toda aquela brancura de motivo de cartões de natal e sentir o frio dezembrino, bem diferente dos países tropicais, a vontade que dá é de ficar quieto no aconchego duma cama ou talvez numa poltrona em frente a uma lareira crepitante munido de uma boa xícara de chocolate quente esperando o sono chegar... Bem! Esse é o final típico de todos os anos; não há nada a produzir, a terra hiberna e não há fruto nem renovo no solo; contudo, uma espécie de bordo, uma árvore caduca chamada Acer, cuja folha decora a bandeira daquele país, que apesar da aparência ressequida pelo clima invernal, o seu interior está a produzir algo fantástico, um licor doce como mel, rico em nutrientes e que pode salvar vidas em tempo de escassez. Deus é maravilhoso! Ele faz que uma planta velha e sem folhas no meio de um frio gélido produza um xarope revigorante quando do solo não brota mais alimento, e isto é para que os viajantes, os andarilhos, os perdidos na floresta - aqueles que estão longe de um abrigo - tenham como repor suas forças.

O pregador diz: Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento (Eclesiastes 12: 1). Porém, o profeta Isaías escreveu: “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento. Dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão; mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão” (Isaías 40: 28-31).


Cheguei ao inverno de minha existência. Os meus fracos olhos contemplam as estações de minha vida como “um conto ligeiro”. Neste tempo atual o viço se foi e os frutos maduros foram colhidos, só me resta o frio da idade e a brancura da neve nos cabelos; quero ficar quieto num canto da casa tentando me aquecer na lareira da memória, e aguardar a promessa do Dia do Senhor que virá; e ante ao chamado de Jesus Cristo o meu Deus, serei revestido da incorruptibilidade, e este corpo fraco quando for renovado na ressurreição dos mortos, correrá e não se cansará; por agora, mesmo sem o vigor de minha mocidade, o Espírito Santo me faz produzir um "licor de alento" àqueles que, sem esperança, estão desfalecendo por aí.

Não tenham medo, o melhor ainda está por vir; depois de velhos nós frutificaremos!

L. M. S.

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