OS DONS ESPIRITUAIS E
O PROPÓSITO DELES NA IGREJA –
Parte 1. (13 de Fev. 2024).
Textos: 1 Coríntios 12:1-14
e 27-31.
Paulo inicia sua doutrina
no cap. 12 de 1 Cor com esta observação: “Acerca dos dons espirituais, não quero,
irmãos, que sejais ignorantes”. Depois, Paulo explica: “Vós
bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados”.
Ou seja, o modo de culto pagão não é o mesmo modo bíblico, isto é, cristão; os
coríntios eram, antes de se converterem a Deus, pessoas levadas a adoração de
ídolos, e a liturgia do culto idólatra, sempre permeada de ritos escandalosos,
não servem de parâmetro para o culto cristão. Pois pela história, tanto a
bíblica [2Crôn.33:1-7] como a secular, podemos conhecer as práticas da
idolatria em seus ritos, tais como: sacrifícios de crianças e de adultos,
prostituição cultual – no tempo de Paulo, na cidade de Corinto havia essa
prática – a sodomia, automutilações, êxtases – que são contorções espasmódicas
decorrentes de possessões demoníacas – as feitiçarias – que se destaca pelo uso
de poções e encantamentos – a necromancia – que é a consulta aos mortos, como
no espiritismo – agouros – que são profecias e adivinhações do futuro por meio
de observações dos eventos naturais, de nuvens ou das estrelas – o culto aos astros
e aos animais e etc.
Sendo a superstição
associada aos rituais pagãos, o culto cristão não pode se igualar aos ritos
daqueles que servem aos demônios [1Cor.10:19-21]; mas infelizmente por falta de
doutrina bíblica, principalmente nas igrejas neopentecostais e até em algumas
pentecostais, vários costumes idólatras têm-se infiltrado no meio dos
evangélicos como se fossem práticas bíblicas. É comum ver coisa do candomblé e
da umbanda sendo associadas à liturgia das igrejas, tais como: dançar girando
em roda, músicas com ritmos próprios das religiões africanas, espasmos,
êxtases, “cair no poder”, profecias e visões sem sentido bíblico, práticas
semelhantes a da necromancia (já houve casos de crentes que foram a túmulos de
servos de Deus para adquirir a “unção” que o morto tinha em vida, e para
justificar esse absurdo, esses crentes místicos usam a passagem de 2 Reis
13:21), as feitiçarias como o uso de sal grosso, de “óleos ungidos” específicos
para cada situação, levar uma rosa ungida para abençoar o lar, beber ou
mergulhar na água do rio Jordão para curar as enfermidades, as peregrinações a
lugares “sagrados”, usar textos bíblicos fora de seu contexto e\ou até usá-los
como amuletos – exemplo: manter a Bíblia aberta no Salmo 91 para abençoar o lar
– e etc.
Diante dessas idolatrias
comuns de pagãos, onde os seus deuses se contradizem, Paulo enfatiza: ³
“Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de
Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão
pelo Espírito Santo”. Então, no meio cristão, só Jesus é o Senhor e não
podemos misturar a verdade de Cristo, com a mentira da idolatria; os deuses do
mundo se fundem em confusão e se contradizem, porém os seguidores de Jesus
Cristo, não vivem em meio à confusão, pois seguem a verdade e amam a verdade
(Ef.4:14,15), pois somente a verdade liberta do pecado e dos falsos deuses
(João 8:32).
Os dons – em grego:
“carisma” – “presentes”; são concedidos pelo Espírito Santo, ou seja, não são
por merecimento, pois são presentes, e presentes são recebidos por meio da
doação, isto é, o Espírito Santo doa, segundo a graça de Deus, os “carismas”
para os crentes fiéis, a fim de capacitá-los para serviço na obra de Deus; os
reis de Israel e os sacerdotes eram “ungidos” com óleo sagrado para
desempenharem suas funções, pois sendo Israel um reino sacerdotal, os seus
líderes careciam do Espírito de Deus sobre eles, capacitando-os para guiar o
povo eleito do Senhor, portanto, na Igreja, o Israel de Deus, também o Espírito
Santo concede dons aos ministros e os demais que servem na Casa de Deus,
preparando-os e moldando-os para serem úteis na obra evangelística do mundo e
nos demais serviços da Igreja; portanto, os crentes devem buscar do Senhor, a
capacitação necessária para cumprirem seus ministérios.
⁴ Ora, há diversidade de dons, mas o
Espírito é o mesmo. Os dons
são dádivas do Espírito Santo. ⁵ E há diversidade de ministérios, mas o
Senhor é o mesmo. Os ministérios pertencem ao Senhor Jesus, e são outorgados
por Ele aos seus servos fiéis, mas só depois do Espírito Santo tê-los
habilitados para o serviço eclesiástico; porque diz a Escritura: “Subindo
ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens... ¹¹ E Ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas e outros
para pastores de mestres, ¹² querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra
do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo” [Ef.4:8,11,12].
⁶ E há diversidade de operações, mas
é o mesmo Deus que opera tudo em todos. - Estas “operações” são os resultados, isto é, o Espírito capacita o
servo, o Senhor Jesus chama-o para o serviço, e Deus Pai opera os resultados
finais. Explicando melhor, temos o texto de 1Cor.3:6 que diz: “Eu
plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”; ou seja, o fato de
alguém ter dons espirituais, e de ter sido chamado para o serviço na Casa de
Deus, não lhe confere o mérito do sucesso, mas quem dá o “energeo” (energia:
poder para produzir bons resultados na obra – Fl.2:13) é Deus, pois todo poder
necessário para o desempenho vem dEle.
⁷ Mas a manifestação do Espírito é
dada a cada um, para o que for útil. - Nenhuma capacitação vinda de Deus é sem propósito, os dons são
distribuídos conforme necessidade da Igreja, a sua utilização deve sempre
glorificar a Jesus, o Cabeça da Casa de Deus, e também ao dono da Seara, isto
é, a Deus Pai; por isso mesmo que alguns que aleguem possuir dons espirituais
diferentes dos descritos nas Escrituras, tais dons são falsos; pois que
utilidade tem o “dom de rir”, ou de “cair no poder”, ou de imitar animais, ou do
“sapatinho de fogo”? As visões de Deus sempre se deram para despertar e
instruir os crentes sobre a justiça e os propósitos divinos, mas nunca sem um
destes sentidos; se alguém tem uma visão ou sonho e acredita que são
manifestações dadas pelo Senhor, que então procure a interpretação
racionalmente bíblica, pois se não houver uma, então, trata-se apenas de
cansaço da carne (Ecl.5:3a. “Da muita ocupação vêm os sonhos...”).
⁸ Porque a um pelo Espírito é dada a
palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; - Certo pastor disse: “A diferença entre ‘sabedoria’
e ‘conhecimento’; é que, o conhecimento nos diz que o tomate é uma fruta, mas a
sabedoria nos capacita a não pôr tomates em uma salada de frutas”. Mas, de
certo modo, a palavra do conhecimento é a capacidade do crente de descobrir
mistérios escondidos nas Escrituras, ou nos sonhos e nas visões, e assim
revelá-los aos crentes com o propósito da edificação do Corpo de Cristo; já a
palavra de sabedoria envolve o aconselhamento bíblico e secular na compreensão
das mais diversas situações da vida; como exemplo temos o caso de José no
Egito, que interpretou os sonhos de faraó e também o instruiu como seu reino
poderia sobreviver aos sete anos de seca que estavam por vir [Gn.41]; também, o
outro exemplo que temos nas Escrituras é o de Daniel em Babilônia, pois quando
este deu a interpretação do sonho da “grande árvore” a Nabucodonosor, Daniel o
aconselhou ao arrependimento [Dn.4:20-27].
⁹ E a outro, pelo mesmo Espírito, a
fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; - A fé aqui não se trata daquela inicial que
temos na nossa conversão, mas trata-se de uma fé superior, daquelas que “movem
montanhas” [Mt.17:20], mas ainda que não tenhamos alcançado essa fé
classificada como um dos dons do Espírito Santo, isto não quer dizer que ela
não está ao nosso alcance, pois Paulo mesmo diz: “Procurai com zelo os melhores
dons” [1Cor.12:31]; já no tocante aos dons de curar, quem o possui é
também quem prega a Palavra de Deus, pois os discípulos ao serem comissionados
e capacitados a pregar o Evangelho, segundo o que Marcos escreveu no cap. 3:13-15,
e Lucas 10:1-9, as curas e sinais são uma confirmação do que foi pregado, isto
é, o Espírito Santo dá testemunho da verdade das Escrituras, cooperando com o
pregador por meio de sinais e curas [Mc.16:20]. Filipe, um dos sete diáconos,
por causa da grande perseguição deflagrada em Jerusalém contra a igreja, seguiu
para Samaria, e ali “anunciava a Jesus Cristo” para os samaritanos, e as
multidões atendiam ao que o evangelista dizia, pois o ouviam e viam os
prodígios que Deus operava por meio dele [At.8:4-8]. Portanto, só há cura,
sinais e milagres, se houver pregação genuína da Palavra de Deus.
¹⁰ E a outro a operação de
maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e
a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. - Quanto a operação de maravilhas, podemos
destacar a multiplicação dos pães em Mt.14:19-21 e 15:36-38, o domínio sobre o
clima como em Mt.8:24-26, e sobre os elementos como em Mt.14:26-29; já o dom de
discernir espíritos é flagrante nos textos de João 2:24,25 e em Atos 5:1-4; quanto
às línguas, o capítulo 14 de 1 Coríntios nos dá maiores detalhes.
¹¹ Mas um só e o mesmo Espírito
opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. - Podemos entender que como servos, não nos
compete escolher o trabalho e nem as “ferramentas” para a obra que executamos
na seara de Deus, Ele é o Senhor e nós somos servos; mais adiante Paulo dá
explicações da razão da distribuição dos dons ser uma particularidade do
Espírito Santo: ¹² “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os
membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também”. - Isto
é, no corpo humano quem comanda os seus membros é a cabeça, se algum dos
membros se move sem a ordem da cabeça, então se trata de um reflexo
involuntário, um espasmo e isto pode indicar um membro doente; e cada membro tem
sua função de acordo com seu propósito no corpo: a mão, o pé, o ouvido, a boca,
os demais membros, todos têm as suas funções já de antemão preparadas e aptas para
trabalharem pelo bom funcionamento do corpo.
¹³ Pois todos nós fomos batizados em
um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer
livres, e todos temos bebido de um Espírito. - Este batismo em um Espírito e o beber de um
mesmo Espírito, referidos aqui, diz respeito ao que Cristo mencionou em João
7:37-39 (Se alguém tem sede venha a mim e beba; quem crer em mim... rios de
águas vivas fluirão do seu interior; isto disse do Espírito que haviam de receber
os que cressem nEle...), então não se trata da “segunda bênção” que é a
virtude do alto descrita em Lucas 24:49 e confirmada em Atos 2.
¹⁴ Porque também o corpo não é um só
membro, mas muitos. - Deus nos
chama, nos capacita, e nos põe em ordem na igreja de forma interdependente,
ou seja, os membros são postos no Corpo de Cristo de forma ordenada para que
cada crente seja dependente um do outro; não existe super crente, não existe
uns mais ungidos que os outros; na Antiga Aliança o sumo sacerdote era
ungido, mas os seus filhos eram lavados com água e vestidos com os paramentos
sacerdotais [veja: Lv.8:6,7,12,13], ou seja, os filhos do sumo sacerdote
estavam debaixo da unção do seu pai; desta mesma sorte, na Igreja de
Cristo, somente Cristo é o Sumo sacerdote e nós, como filhos de Deus, estamos
debaixo da Sua Unção; mas assim como na Aliança Mosaica havia ministros do
Tabernáculo, também na Nova Aliança, a do Sangue de Cristo – a Aliança do
Espírito, Jer.31:33 e Hb.10:16 - há servos de Deus separados para ministrar
diante do Senhor para o povo dEle, e é por isso que há uma hierarquia dentro da
Igreja como vemos em Ef.4:11-13, os apóstolos vem, depois os profetas, logo após
os evangelistas, pastores e mestres, e todos estes sevem na Igreja, como as
juntas e os ligamentos servem ao corpo humano [ver: Ef.4:16 e Cl.2:19], pois unem
os membros ao Corpo de Cristo, e fazem isto por meio da sã doutrina da Palavra
de Deus, corrigindo os que se desviam do “Caminho, da verdade, e da vida”, no
uso correto das Escrituras, e assim pastorear, conduzir o rebanho do Senhor na
edificação e no aperfeiçoamento até a vinda do Senhor.
1 Coríntios 12:27-31.
²⁷ Ora, vós sois o corpo de Cristo,
e seus membros em particular.
- Como já vimos antes, a Unção de Cristo, que é o Seu Espírito Santo, nos
dirige e nos move em direção a Cristo, e isto por meio da fé no Evangelho, pois
a fé é sempre uma persuasão divina despertada em nosso espírito [Ef.2:8], pois a
fé é do Espírito de Deus para o espírito do homem, e ninguém pode ser de Deus
sem ter o Espírito Santo habitando nele [João 3:6 e Rm.8:9].
²⁸ E a uns pôs Deus na igreja,
primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores,
depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas. - Vemos quão grande
é a variedade de serviços e funções designadas por Deus para sua obra neste
mundo: 1. Apóstolos - são os “enviados” aos povos para anunciar o Evangelho e
fundar congregações; 2. Profetas – de uma maneira geral são os que pregam a
Palavra, pois falam em Nome do Senhor, mas também são aqueles que também trazem
revelações dentro das congregações [1Cor.14:3]. 3. Mestres – crentes
capacitados para ensinar as Escrituras nas congregações. 4. Milagres – como já
vimos antes que, além de ser um dos dons espirituais [1Cor12:10], também é uma
manifestação do Espírito Santo em cooperação com os pregadores, em testemunho
de que a Palavra de Deus foi anunciada, e que ela é a única verdade. 5.
Socorros – esta obra é atendida na ministração de suprimentos materiais pelos
diáconos [Atos 6:1-7], mas também envolve socorros espirituais, e isto se dá
por meio do dom da palavra de sabedoria, para aconselhamento nas dificuldades espirituais
ou emocionais dos crentes. 6. Governos - serviços administrativos, os quais
visam a organização na obra do Evangelho; Paulo vai dizer mais tarde aos
coríntios que ninguém milita as suas próprias custas, e que quem planta deve
ser participante dos frutos que plantou [1Cor.9:7], assim a Igreja deve se
organizar para que “haja mantimento” [Ml.3:10] e sejam supridas as necessidades
que surgirem, mas isto não se resume apenas ao pão cotidiano, mas também nos
aspectos legais, morais, éticos e estruturais do povo de Deus; é por isso que a
palavra bispo – epíscopos – significa superintendente, ou seja, um administrador.
²⁹ Porventura são todos apóstolos? São
todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? ³⁰ Têm
todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos? ³¹
Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho
mais excelente.
Cabe a cada membro do
Corpo de Cristo procurar com zelo os dons do Espírito Santo, e se conformar, se
ajustar e se sujeitar, em primeiro lugar a Deus e depois àqueles a quem a
Igreja de Cristo foi confiada, pois os ministros do Evangelho servem a Cristo
para responder pelos santos, tanto aos homens como ao Senhor, tanto agora como
no dia do juízo, pois aos líderes, Deus os julgará com maior rigor [Mt.7:22,23
e Tg.3:1]. Amém!
Ev. Levi.