1. KAINOS E NEOS.
Em Marcos 16:17, está escrito que um dos sinais que seguiriam os que cressem em Jesus Cristo seria o de “falar novas línguas”; transliterado do grego: Glossais (línguas) lalesousin (falarão) kainais (novas). Bem! No grego existem dois adjetivos para qualificar algo como “novo”, os quais são: “Kainos” e “neos”.
a) Vamos falar primeiro sobre o adjetivo “kainos” que o evangelista Marcos usou para qualificar as (novas) línguas. Com relação à forma, o Dicionário de Strong define kainos (20537) como algo feito recentemente, e que nunca foi utilizado; e quanto à substância, de um novo tipo; sem precedente, incomum, inédito (dado agora pela primeira vez). Kainos denota algo que “nunca foi utilizado”, ou seja, o que é inédito, tal qual o sepulcro em que Jesus foi colocado: ...“E no jardim um sepulcro novo (mnemeion kainon), no qual ainda NINGUÉM HAVIA SIDO POSTO” (João 19:41). E ainda vemos vários exemplos nas Escrituras desse adjetivo qualificando palavras como: odres novos (askous kainos – Mateus 9:17 e Marcos 2:22 e Lucas 5:38); roupa nova (himatiou kainou – Lucas 5:36); nova criatura (kaine ktisis – 2 Cor 5:17); novo céu (ouranon kainon) e nova terra (gen kainen) – 2 Pe 3:13 e Ap 21:1; Novo Testamento (kaine diatheke – Lucas 22:20 e Hb 9:15)...
b) Agora vejamos o significado de “neos”. Neos, segundo o Strong, qualifica algo como “jovem”, mas que pertence à mesma natureza e tem a mesma substância do que já existe; é diferente do antigo apenas no tempo em que foi feito; exemplo: o vinho novo é diferente do vinho velho apenas pela idade, mas ambos têm a mesma substância, pois eles são feitos de uvas; e têm a mesma natureza ou origem, pois ambos provêm da videira.
Por isso que as línguas ouvidas no dia de Pentecostes não podem ser idiomas humanos conhecidos, isto é, xenoglossia, pois a promessa seria de “novas línguas” (kainos glossa), ou seja, línguas inéditas, as quais nunca foram ouvidas por ninguém e, portanto, sem iguais neste mundo.
2. HETEROS E ALLOS.
Atos 2:4 nos diz que todos os discípulos foram cheios do Espírito Santo, e
começaram a falar “noutras línguas”, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem. Veja que o texto grego usa o termo “heteros” para
qualificar as “outras línguas”. Semelhantemente à palavra “novo” o grego koiné
usa duas palavras diferentes para se referir ao termo “outro”, e são elas: heteros e allos.
a) Vejamos primeiro “heteros”. No Strong (2087), heteros significa outro, mas de um tipo diferente, ou seja, de “qualidade” diferente em comparação de sua contraparte, isto é, heteros distingue, heteros faz a distinção qualitativa entre dois objetos.
b) Agora vejamos “allos”. Ainda no Dicionário de Strong, allos (243) descreve “outro”, mas do mesmo tipo; de um tipo similar, ou seja, da mesma qualidade; allos não faz distinção qualitativa, mas apenas numérica.
Obs: Heteros e Allos são sinônimos, “heteros pode ser allos, mas allos não pode ser heteros”; porém, em comparação, heteros distingue um de dois na qualidade da coisa, já allos faz apenas distinção numérica da coisa; heteros envolve a ideia secundária da "diferença do tipo".
Conclui-se que as “outras línguas” ouvidas no dia de Pentecostes foram línguas distintas em qualidade (heteros) e não apenas em número (allos); porque os idiomas humanos são apenas distintos em número, pois são muitos, mas ainda são deste mundo, ou seja, qualitativamente são iguais em si, e um não é superior ao outro. Contudo, as línguas celestiais são superiores às dos homens, pois elas servem para alguns propósitos divinos tais como: um sinal nos que creem em Jesus (Marcos 16:17); um sinal para os incrédulos (1 Cor 14:22); e um meio de edificação espiritual no crente que ora no espírito (1 Coríntios 14:4,14).
3. ESTÃO CHEIOS DE MOSTO.
Se as línguas ouvidas
no Dia de Pentecostes fossem idiomas humanos; então por que alguns judeus não
entenderam nada? Sim, pois, alguns deles, que zombavam dos discípulos,
disseram: “Estão cheios de mosto” (Atos 2:13). Sim meus amigos! Todos os judeus
deveriam ter entendido o que se falava pela boca dos crentes em Jesus, pois as
línguas da Judeia também foram ouvidas. Vejam: “Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em
que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na
Mesopotâmia, JUDEIA,
Capadócia, Ponto e Ásia” (Atos 2:8,9). É isso mesmo, os idiomas da Judeia
também foram ouvidos naquele dia, ou seja, o hebraico, o aramaico e o grego
foram ouvidos. Então esta é uma prova cabal de que não foram as línguas humanas
que eles falavam por meio do Espírito Santo no Pentecostes, mas sim línguas
celestiais, as línguas dos anjos. Deus abriu o entendimento dos judeus que
vieram às festas para buscá-lo de todo o coração, e fechou os ouvidos dos
falsos adoradores. Outro ponto importante é que os países mencionados em Atos 2
eram em sua maioria, de nações vizinhas (ou quase) à terra de Israel, por isso
os seus idiomas não eram tão estranhos para os judeus de Jerusalém, portanto dizer
que alguém está bêbado só por falar num outro idioma é ilógico; então, os
judeus que disseram que os discípulos estavam “cheio de mosto”, não o fizeram
porque estavam ouvindo línguas estrangeiras, mas línguas diferentes.
Em Isaías 28; o Senhor Deus prediz as línguas do Dia de Pentecostes, isto é, do sinal que Ele daria ao povo de Israel; e isto tanto para o remanescente fiel do seu povo como também para os infiéis (1 Coríntios 14:21,22). Isaías começa o capítulo com uma crítica, pois Efraim (Israel) está “embriagado com vinho das nações”, ou seja, com os costumes dos gentios. A Lei que deveria ser o meio, o aio (Gálatas 3:24) pelo qual os judeus seriam conduzidos ao Messias e por conseguinte, à verdade e à salvação pela oferta do Cordeiro de Deus; tornara-se apenas em meros ritos religiosos semelhantes aos cultos pagãos: “mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui e um pouco ali” (leia o verso 10). Então o Senhor faz a pergunta contundente: “A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender a doutrina? Ao desmamado do leite, e ao arrancado dos seios?” (Is 28:9). E conclui no verso 11: Assim por “lábios gaguejantes”, e por “outra língua”, falará a este povo. Nestes dois versos Deus expõe quem ouviria e o que se ouviria quando chegasse o “descanso” (verso 12) do povo de Deus: vozes embriagadas com o Espírito Santo e ininteligíveis para os judeus embriagados com o mundo; e as línguas maternas para os judeus que buscavam ao Senhor como meninos, idiomas que eles haviam conhecido desde criança. Outra curiosidade é que no hebraico, a palavra usada para “gaguejante” é “laeg”, e significa “zombaria”. O Senhor usa dos mesmos modos dos homens, para tratar com os homens; ou seja, Efraim está bêbado com o vinho mundano, então Deus lhe fala com os lábios de um bêbado; Efraim está ensoberbecido com as grandezas humanas; então Deus se revela para criancinhas espirituais; aos desmamados do leite, aos arrancados dos seios.
4. UMA CONCLUSÃO LÓGICA.
O Espírito Santo caiu
sobre quase 120 pessoas as quais começaram a falar ao mesmo tempo em línguas
diferentes, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem; logicamente
seria impossível alguém entender o que era falado, pois o som causado por
várias vozes juntas faz um barulho tão grande que ninguém consegue distinguir frase alguma do que se diz, mas somente um grande rumor é ouvido ao qual chamamos de “burburinho” (barulho que não se consegue distinguir,
geralmente causado por pessoas que estão falando ao mesmo tempo). Então, mesmo que as línguas fossem idiomas humanos estrangeiros,
jamais os que as entenderam poderiam ter ouvido cada um no seu próprio idioma
materno, “o falar das grandezas de Deus” como eles afirmaram do verso 8 ao 11
de Atos 2.
L. M. S.
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