A
glória do jovem é a sua força; e a beleza dos velhos são as cãs
(Provérbios 20: 29).
O
texto a seguir é uma história contada por alguém que já foi um
moço como vocês, mas agora é um ancião como nós.
Numa
vez que viajei ao Canadá, permaneci por lá quase um ano inteiro e
nesse período tive o privilégio de assistir o espetáculo das
mudanças das estações daquele país, pois numa região de clima
temperado as estações do ano são bem definidas e assim podemos
distingui-las visivelmente.
A
primavera certamente é a mais bela, tanto pelo que se vê como pelo
que se pode sentir, pois o colorido das flores cobre a terra e os
cheiros que elas exalam perfumam o ar. A primavera e o verão
evidenciam a vida; as plantas se enfeitam de flores, as borboletas
voam desajeitadamente belas, as abelhas incansavelmente polinizam, e
no verão os animais garantem, pelo acasalamento, a próxima geração
de sua espécie... Enfim, é o tempo da juventude: laboriosa, viva,
bela e fugaz.
Quando
cheguei ao Canadá a primavera declinava, e quando parti, o inverno
já estava perto do seu fim. Um amigo que conheci por lá me disse
certa vez, que a primavera é o tempo do despertar; porque as árvores
depois dos rigores do inverno, brotam; os ursos saem de suas tocas, e
as fêmeas vêm para fora com os seus filhotes. Portanto a primavera,
tal qual nossa infância, é o renovo é o nascimento; é o acordar
da vida... Porém, o que está vivo não se estagna, mas segue o seu
curso, pois assim como as estações do ano estão ligadas num ciclo
que prepara a chegada de uma no término da outra, as fases da nossa
existência neste mundo também obedecem a esse ciclo preparatório;
nós nascemos, crescemos, frutificamos, envelhecemos e adormecemos;
uma lei da qual ninguém pode furtar-se.
Apesar
da primavera e do verão abarrotar de encantos os meus sentidos, o
melhor ainda estava por vir. Se na primavera a terra desperta, no
verão ela se embeleza de frutos; mas é no outono que esses frutos
crescem e amadurecem, e é no fim dele que esses frutos são
colhidos.
Como
eu já disse antes, o final de uma estação é a preparação para o
início de outra, e é marcante a visão dos carvalhos e bordos
derrubando suas folhas vermelhas e amarelas para cobrir o chão com
um manto colorido de uma colcha de retalhos; é como se eles
quisessem, despindo-se de sua beleza, proteger o solo do frio que
está chegando.
As
últimas chuvas caem, a temperatura também, e a branca neve cobre
todo o cenário. O inverno chegou! Olhar toda aquela brancura de
motivo de cartões de natal e sentir o frio dezembrino, bem diferente
dos países tropicais, a vontade que dá é de ficar quieto no
aconchego duma cama ou talvez numa poltrona em frente a uma lareira
crepitante munido de uma boa xícara de chocolate quente esperando o
sono chegar... Bem! Esse é o final típico de todos os anos; não há
nada a produzir, a terra hiberna e não há fruto nem renovo no solo;
contudo, uma espécie de bordo, uma árvore caduca chamada Acer, cuja
folha decora a bandeira daquele país, que apesar da aparência
ressequida pelo clima invernal, o seu interior está a produzir algo
fantástico, um licor doce como mel, rico em nutrientes e que pode
salvar vidas em tempo de escassez.
Deus
é maravilhoso! Ele faz que uma planta velha e sem folhas no meio de
um frio gélido produza um xarope revigorante quando do solo não
brota mais alimento, e isto é para que os viajantes, os andarilhos,
os perdidos na floresta - aqueles que estão longe de um abrigo -
tenham como repor suas forças.
O
pregador diz: Lembra-te
também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os
maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho
neles contentamento (Eclesiastes 12: 1).
Porém, o profeta Isaías escreveu: “Não
sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins
da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu
entendimento. Dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que
não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os
moços certamente cairão; mas os que esperam no Senhor renovarão as
forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se
cansarão; caminharão, e não se fatigarão” (Isaías 40: 28-31).
Cheguei
ao inverno de minha existência. Os meus fracos olhos contemplam as
estações de minha vida como “um conto ligeiro”. Neste tempo
atual o viço se foi e os frutos maduros foram colhidos, só me resta
o frio da idade e a brancura da neve nos cabelos; quero ficar quieto
num canto da casa tentando me aquecer na lareira da memória, e
aguardar a promessa do Dia do Senhor que virá; e ante ao chamado de
Jesus Cristo o meu Deus, serei revestido da incorruptibilidade, e
este corpo fraco quando for renovado na ressurreição dos mortos,
correrá e não se cansará; por agora, mesmo sem o vigor de minha
mocidade, o Espírito Santo me faz produzir um "licor de alento"
àqueles que, sem esperança, estão desfalecendo por aí.
Não
tenham medo, o melhor ainda está por vir; depois de velhos nós
frutificaremos!
L.
M. S.
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