Alguém
de certo estranhará o título desta mensagem. Mas foi isto
exatamente o que aconteceu numa pequena vila da Saxônia, na
Alemanha, chamada "Hernnhut", que significa "A Vigília
do Senhor". O nome foi dado por um grupo de crentes que ali
formaram uma colônia de refugiados em virtude de perseguição em
sua terra, a Morávia, na Checoslováquia, também chamada Boêmia.
Estes eram remanescentes de um avivamento liderado por João Huss,
padre católico que se influenciou com as doutrinas de John Wycliffe,
da Inglaterra; as quais enfatizavam a autoridade das Escrituras. João
Huss começou a traduzir tais obras, mas teve de fugir da capital,
Praga. Depois, apesar do salvo conduto do Imperador Sigismundo,
compareceu ao Concilio de Constança para responder por suas supostas
heresias. Foi aprisionado. Chamado a renunciar suas crenças, recusou
categoricamente. Condenado à morte, foi queimado vivo na fogueira,
em praça pública, no ano de 1415. Desapareceu o líder, mas o
movimento continuou apesar das muitas perseguições que obrigaram os
fiéis a procurarem refúgio onde pudessem. Foi assim que, 300 anos
depois, um grupo deles apareceu nas terras de um jovem de 22 anos de
idade, o conde Zinzendorf, fervoroso crente em Jesus, que os acolheu.
Entre os crentes havia luteranos, batistas e também da Igreja
Reformada. O jovem conde deu prova de um verdadeiro herói
espiritual.
O
Avivamento em Hernnhut.
Desde
a idade de 16 anos, o conde se distinguira como universitário e na
formação de locais de oração, tática esta que aplicou em
Hernnhut. No dia 12 de maio de 1727 foi celebrado solenemente o
famoso “Pacto Fraternal", com inteira dedicação ao Senhor e
ao estudo assíduo da Bíblia. Pequenos grupos se reuniam diariamente
para a oração. O resultado foi um grande avivamento quando o
espírito de intercessão tomou conta de todos os presentes. Até as
crianças foram envolvidas no extraordinário movimento espiritual
que sacudia a vila de Hernnhut. Oravam até altas horas da noite. No
dia 27 de agosto, firmados na lembrança do fogo do altar do
Tabernáculo – “O fogo arderá continuamente sobre o altar, não
se apagará” (Lev. 6:13) – vinte e quatro irmãos e vinte e
quatro irmãs iniciaram a famosa vigília horária, dia e noite,
semana após semana, a qual durou mais de cem anos, sem parar;
realmente o fogo ardeu continuamente sobre o altar.
Parece
que em toda a história do Cristianismo nunca houve coisa igual.
Assim, distante de qualquer orientação carnal, foram
verdadeiramente inspirados pelo Espírito Santo, e tudo prosseguia
sobre os moldes dos genuínos avivamentos, como no Dia de
Pentecostes, na Igreja Primitiva, onde até a casa em que estavam
reunidos tremeu (Atos 4.31). Hoje falamos muito em avivamentos.
Queremos a evangelização do mundo. Há muitas organizações que a
isto se dedicam. Porém a maneira mais certa para a evangelização
do mundo é a descoberta do poder da oração e da intercessão.
Os
Resultados do Avivamento.
A
reconciliação tornou-se desconhecida entre os crentes
(reconciliar-se do quê, se todos tinham se afastado da verdade de
Jesus Cristo?) – caíram por terra as divergências doutrinárias,
todos voltaram seus corações a Cristo. Zinzendorf escreveu que
“todo o lugar tomou o aspecto da visível habitação de Deus”. E
a oração constante era mantida, dia e noite, a favor de um
avivamento em todo o mundo, era uma chama que ardia até na alma das
crianças. Todos do grupo eram bem jovens. Dentro de seis meses de
vigília foram impulsionados a enviar missionários para as Ilhas do
Mar das Antilhas, Groenlândia, Turquia e Lapônia. Surgiram as
dúvidas, mas Zinzendorf insistiu. Vinte e seis morávios
ofereceram-se como voluntários para a evangelização do mundo. As
proezas da fé e a coragem constituíram os monumentos mais
auspiciosos na história da Igreja. Nada pôde, pois, segurar
Zinzendorf e seu grupo de intrépidos soldados de Cristo. Prisões,
naufrágios, perseguições, zombarias, epidemias, pobreza e muitas
ameaças de morte não os puderam deter.
Os
primeiros missionários chegaram às Antilhas em 1732, e, no decorrer
dos dois anos seguintes, 22 desses morávios morreram. Outros vieram
substituí-los. Um dos primeiros foi Frederich Martin. Ele e os
companheiros foram presos por pregarem aos negros, permanecendo
encarcerados por três meses. Mas uma atitude exemplar os distinguiu
quando se deram intensamente à intercessão, como Paulo e Silas na
prisão em Filipos. Um número de 700 convertidos reuniu-se o mais
perto possível da prisão para cantar hinos e ouvir sermões
inspirados dos dois denodados pastores. E surgiu um glorioso
avivamento.
Foi
nesse tempo que, inesperadamente, chegou o conde Zinzendorf a bordo
de um veleiro, na sua primeira viagem missionária, acompanhado de
dois casais que vinham reforçar o número de obreiros. Ao
aproximar-se da Ilha, disse o conde aos novos missionários: “E se
não encontrarmos ninguém? Se todos os missionários tiverem sido
assassinados?” A resposta logo se fez seguir por parte de um dos
missionários: “Mas então nós estamos aqui!” Esta disposição
muito impressionou Zinzendorf, que exclamou: “Geens aeterna diese
Maehren!” (“Essa raça eterna, esses morávios”!). O conde
conseguiu a libertação dos dois pastores, que estavam doentes e
padecendo fome. E foi grande a surpresa no tocante à obra do Senhor,
que se tornou maior que em Hernnhut. Deus continuava a levantar
obreiros, cada vez mais, à medida que os morávios na pequena ilha
intercediam diante de Seu tono, sem parar, dia e noite, década após
década, durante 100 anos. No ano de 1792, William Carey (considerado
o “Pai das Missões”) propõe uma reunião em Kettering,
Inglaterra, uma missão para ir à Índia. Nesta época, quando os
morávios já haviam enviado 300 missionários, Carey lançou sobre a
mesa um exemplar de um periódico contendo as “aventuras” dos
morávios, dizendo: “Olhem aqui, vejam os que os morávios já
fizeram! Por que não podemos seguir o seu exemplo, e, em obediência
a nosso Mestre celestial, sair por todo o mundo e pregar o Evangelho
aos pagãos?”
Os
historiadores da Igreja relatam as maravilhas do avivamento do século
XVII como o “Grande Despertar” espiritual na América do Norte e
na Inglaterra conduzindo dezenas de milhares para Cristo. Uma das
figuras principais neste avivamento foi John Wesley, fundador da
Igreja Metodista. Mas nem todos sabem quem foram os modestos morávios
que o ganharam para Cristo. É oportuno lembrar que foi no ano de
1736 quando dois irmãos anglicanos John e Charles Wesley se
encontravam a bordo de um navio a caminho da América e surgiu um
terrível furacão ameaçando suas vidas. Eram pastores, mas não
convertidos. Apavorados, procuraram alguns morávios que também
viajavam com eles. E a calma destes e o espírito de confiança em
Deus no meio da tormenta muito impressionaram os dois pastores, os
quais não tinham paz na alma. Pregavam
para outros, mas eles mesmos precisavam da certeza da justificação
pelo sangue de Cristo. Contudo, somente dois anos depois, em 1738,
numa reunião dos morávios em Londres, é que o pastor Peter Boehler
foi usado por Deus para levar a plena luz da conversão, do novo
nascimento e a conseqüente segurança da fé em Cristo para o jovem
John Wesley. Este ganhou seu irmão Charles para a mesma experiência
de fé. E deste modo, pregando a salvação pela fé nos méritos do
sacrifício de Cristo, tornou-se um ganhador de almas. Por sinal, a
primeira pessoa a quem testificou foi um preso, condenado à morte.
Não demorou muito quando John ganhou para Cristo sua idosa
progenitora, Susana, mãe de 19 filhos.
Os metodistas e os morávios
frequentemente se reuniram para estudo da Bíblia e oração. O
grande pregador George Whitfield, companheiro de Wesley, que foi tão
grandemente usado por Deus no despertamento da América, recebeu um
grande impacto em sua alma pelo contato com os morávios. Acerca de
uma dessas reuniões escreveu Wesley em seu diário: “Por volta das
três horas da madrugada, enquanto continuávamos em oração, o
poder de Deus desceu intensamente sobre nós de tal forma que muitos
choraram e muitos caíram no chão. Quando me refiz um pouco daquele
grande impacto da presença da Majestade suprema, uníssonos
cantávamos: “Nós te louvamos, ó Deus; nós de reconhecemos como
Senhor”. O grande líder John Wesley formou o Metodismo, que
salvou a Inglaterra da desgraça da Revolução Francesa. Foi o
impacto do Espírito Santo e o ensino bíblico que trouxe tão
grandes resultados espirituais no oportuno exemplo desses irmãos
morávios, inspirando-se na Vigília dos Cem Anos.
Missionário
Lawrence Olson – Revista “A Seara”.
"QUE
O CORDEIRO QUE FOI IMOLADO RECEBA A RECOMPENSA DO SEU SOFRIMENTO"!
Dois
jovens morávios para poder evangelizar escravos de uma colônia
britânica, deram a si mesmos como escravos perpétuos de um senhor
inglês. Na partida, dentro do navio, eles gritaram: "QUE O
CORDEIRO QUE FOI IMOLADO RECEBA A RECOMPENSA DO SEU SOFRIMENTO";
nesta frase eles resumiram todo o conceito do que é ser um cristão,
pois, pela compaixão de Deus, eles apresentaram os seus corpos como
um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, em um culto racional;
e não se conformaram com o mundo, mas transformaram-se pela
renovação de suas mentes, para provar a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus (Romanos 12:1,2).
L. M. S.
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