Pregadores já expuseram o texto
de Lucas dando as mais variadas interpretações, mas sempre fugindo da verdade
textual; alguns disseram que a personagem do rico trata da humanidade perdida
que se aproveita de tudo o que o mundo lhe oferece; e outros, dentro dessa
mesma perspectiva, afirmaram que o mendigo tipifica Jesus; mas... Espera aí!
Jesus por acaso iria querer comer das migalhas da mesa do mundo? É claro que
não! Com certeza a parábola trata de outra coisa.
Vejamos a Parábola:
19. Ora, havia certo
homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias,
se regalava esplendidamente. 20. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro,
coberto de chagas, que jazia à porta daquele; 21. E desejava alimentar-se das
migalhas que caíam da mesa do rico, e até os cães vinham lamber-lhes as
feridas. 22. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de
Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. 23. No inferno, estando em
tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. 24.
Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro
que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou
atormentado nesta chama. 25. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que
recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora,
porém, aqui, ele está consolado; e tu em tormentos. 26. E, além de tudo, está
posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui
para vós não podem, nem os de lá passar para nós. 27. Então, replicou: Pai, eu
te imploro que o mandes à minha casa paterna, 28. Porque tenho cinco irmãos;
para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de
tormento. 29. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. 30.
Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles,
arrepender-se-ão. 31. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos
profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os
mortos. (Lucas 16:19-31).
Se analisarmos verso a verso nós compreenderemos
do que se trata:
19. Um homem rico
que se vestia de púrpura e de linho fino e se regalava esplendidamente – Os que
tinham as Escrituras sempre à mão, ou seja, os príncipes de Israel viviam
regalada e esplendidamente todos os dias, pois estudavam-nas diariamente, e as interpretavam ao seu bel prazer; e
vestiam-se de púrpura como reis (Juízes 8:26), pois dominavam com rigor sobre o
povo (Ezequiel 34:4); e também de linho fino, as vestes dos justos (Apocalipse
19:8), pois aparentavam sê-lo;
20 e 21. Um mendigo coberto de
chagas à porta do rico desejando comer das migalhas da sua mesa, com cães
lambendo-lhe as feridas – O povo comum de Israel é o mendigo da parábola de
Jesus, sim, pois Deus disse pelo profeta Amós muito tempo antes de Cristo vir
ao mundo, que enviaria fome na terra; fome, mas não de pão, e sede, mas não de
água, mas fome e sede de ouvir as Palavras de Deus (Amós 8:11); os pobres de
Israel, chaguentos, com cães lambendo-lhes as feridas, jaziam famintos e
doentes mendigando à porta dos príncipes da nação, e desejavam comer das
migalhas caídas da mesa farisaica.
22. Morreram ambos;
o mendigo foi levado pelos anjos para o descanso eterno, e o rico, para o
tormento eterno – Jesus disse que os publicanos e as prostitutas entrariam no
reino do céu, e que os fariseus que lhes fechavam a porta, ficariam de fora
(ver: Mateus 21:31 e 23:13, Lucas 11:52, João 12:42,43).
23. O rico vê Abraão
e o chama de pai – Os príncipes dos judeus se consideravam os filhos de Abraão, pois
orgulhosamente exibiam sua linhagem, mas não imitavam as obras de Abraão (João
8:39).
24 e 25. O rico pede para que lhe
refresque a língua, pois está em ardendo tormentos – Os intérpretes da Lei e
dos profetas, não ensinavam ao povo a Palavra do Senhor, pois distorciam a
verdade e expunham somente o que lhes interessava (Lucas 13:28,29; ver também:
Malaquias 2:7,8), portanto, com justiça a língua do homem rico ficou ressequida
porquanto o seu corpo queimava em fogo no Hades (Isaías 41:17).
26. Há um grande abismo – Certa vez,
os fariseus, ao referirem-se do povo, disseram: “Esta multidão que não sabe a
Lei é maldita” (João 7:49). Jesus disse que qualquer se exaltar será humilhado e que quem
se humilhar será exaltado; era exatamente o que os chefes do povo faziam
criando um abismo entre eles e os pobres de espírito, portanto eles também
clamariam, mas não seriam atendidos, pois um abismo seria o pagamento por suas
ações (Miquéias 3:1-4).
27 ao 31. O rico tem cinco irmãos
– Os fariseus, os sacerdotes, os levitas, os escribas e as tradições; cinco
irmãos condenados ao tormento. O rico, então, pede um sinal: “que Lázaro
ressuscite para que seus irmãos creiam”; e ele diz: “Manda Lázaro à casa de meu
pai para lhes dar testemunho”; mas se nenhum dos irmãos do rico ouvia o que
Moisés e os profetas falavam; como eles poderiam crer se alguém voltasse dos
mortos? Jesus disse: “Uma geração má e perversa pede um sinal; porém nenhum
outro sinal será dado senão o do profeta Jonas” (Mateus 12:38-40 e cap. 16:4).
Jesus ressuscitou a Lázaro, e sendo este milagre o maior do seu
ministério como homem, os judeus não creram; Jesus deu-lhes o sinal do profeta
Jonas quando ressuscitou dos mortos, e mesmo assim os fariseus, os escribas, os
sacerdotes, e os príncipes do povo não creram.
A Parábola de Lucas 16 é uma
crítica aos religiosos fariseus, escribas e sacerdotes, os quais distinguiam a
si mesmos dos demais filhos de Israel; eles eram os sepulcros caiados que, por
fora, eram impecáveis, mas por dentro imundos, pois aquilo que dentre os homens
é elevado, Deus abomina (Lucas 16:15). E assim são os religiosos que se
imunizam dos demais pecadores e se consideram superiores a eles, mas por fim
não passam de falsos crentes e de corações incircuncisos.
L. M. S.
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